terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Literatura
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Como escrever [e não escrever] um e-mail?
sábado, 30 de abril de 2011
Da perda...
quarta-feira, 16 de março de 2011
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Amigos, de Vinicius de Moraes
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Soul's Theory (Part5)
“Sendo uma criatura natural, tudo o que ele faz é natural. Logo, as suas criações são naturais, da mesma maneira que o ninho feito pelas aves é uma coisa natural.” Tossiu. “O que eu quero dizer é que tudo na natureza é natural. Se o homem é um produto da natureza, então tudo o que ele faz também é natural. Apenas por uma convenção de linguagem se estabeleceu que os objectos que ele cria são artificiais, quando, na verdade, são tão naturais quanto os objectos que as aves criam. Logo, sendo criações de um animal natural, os computadores, tais como os ninhos, são naturais.”
“Mas não têm inteligência.”
“Nem as aves ou os gafanhotos têm.” Fez uma careta. “Ou m
elhor, as aves, os gafanhotos e os computadores têm inteligência. O que eles não têm é a nossa inteligência. Mas, por exemplo, no caso dos computadores, nada garante que, daqui a cem anos, eles não venham a ter uma inteligência igual ou superior à nossa. E, se atingirem o nosso grau de
inteligência, podes estar certo de que desenvolverão emoções e sentimentos e tornar-se-ão conscientes.”
“Isso não acredito.”
“Que possam ter emoções e tornarem-se conscientes?”
“Sim. Não acredito nisso.”
(…)
“Achas que os computadores não podem ter emoções, não é?”
“É. Nem emoções nem consciência.”
“Pois estás muito enganado.” Inspirou fundo, normalizando a respiração. “Sabes, as emoções e a consciência resultam de se atingir um determinado grau de inteligência. Ora, o que é a inteligência? Hã?”
“A inteligência é a capacidade de fazer raciocínios complexos, acho eu.”
“Exacto. Ou seja, a inteligência é uma forma de elevada complexidade. E não é
preciso atingir-se o grau de inteligência humana para se criar a consciência. Por exemplo, os cães são muito menos inteligentes do que os homens, mas, se perguntares ao dono de um cão se o
seu cão tem emoções e consciência das coisas, ele dir-te-á, sem hesitar, que sim. O cão tem emoções e consciência. Logo, as emoções e a consciência são mecanismos que emergem a partir de u determinado grau de complexidade de inteligência.”
“Portanto, o pai acha que os computadores, se atingirem esse grau de complexidade, tornar-se-ão emotivos e conscientes?”
“Sem dúvida.”
“Custa-me a acreditar nisso.”
“Custa-te a ti e custa à maior parte das pessoas que não está dentro do problema. A ideia de máquinas possuírem consciência parece chocante ao comum dos mortais. E, no entanto, a maior parte dos cientistas que lida com este problema acredita ser possível tomar consciente uma mente simulada.”
“Mas o pai acha que é mesmo possível tornar um computador inteligente? Acha que é possível que ele pense por si só?”
“Claro que é. Aliás, os computadores já são inteligentes. São mais inteligentes do que uma minhoca, por exemplo.” Ergueu o dedo. “Não são é tão inteligentes como os seres humanos, mas são mais inteligentes do que uma minhoca. Ora, o que é que separa a inteligência do ser humano da inteligência da minhoca? A complexidade. O nosso cérebro é muito mais complexo do que o da minhoca. Obedece aos mesmo princípios, ambos têm sinapses e ligações, só que o cérebro humano é incomensuravelmente mais complexo do que o da minhoca.” Bateu na parte lateral da cabeça. “Tu sabes o que é um cérebro?”
“É o que temos cá dentro do crânio.”
“Um cérebro é uma massa orgânica que funciona exactamente como um circ
uito eléctrico. Em vez de ter fios, tem neurónios, em vez de chips , tem miolos, mas é precisamente a mesma coisa. O seu funcionamento é determinista. As células nervosas disparam um impulso eléctrico em direcção ao braço com uma determinada ordem, segundo um padrão de correntes eléctricas predefinidas. Um diferente padrão produziria a emissão de um diferente impulso. Exactamente como um computador. O que eu quero dizer é que, se nós conseguirmos tornar um cérebro do computador mais complexo do que é actualmente, poderemos pô-lo a funcionar ao nosso nível.”
“E é possível torná-los tão inteligentes quanto os seres humanos?”
Continues...
(ıη Ϝσᴙм
ᴜʟα ∂ԑ ᴅԑᴜs, נσsé ᴙσ∂ᴙıɢᴜԑs ∂σs sαηᴛσs)
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Soul's Theory (Part4)
“A sobrevivência dos genes. Há biólogos que definiram o ser humano como uma máquina de sobrevivência, uma espécie de robô programado cegamente para preservar os genes. Eu sei que, assim postas as coisas, parece chocante, mas é isso que nós somos. Computadores programados para preservar genes.”
“Por essa definição, um computador é um ser vivo.”
“Sem dúvida. É um ser vivo que não é constituído por átomos de carbono.”
“Mas isso não é possível!”
“Por que não?”
“Porque um computador limita-se a reagir a um programa predefinido.”
“Que é o que fazem todos os seres vivos baseados nos átomos de carbono!”, devolveu o pai.
“O teu problema é que um computador é uma máquina que funciona na base do estímulo-
resposta programada, não é?”
“Uh… sim.”
“E o cão de Pavlov? Não funciona na base do estímulo-resposta programada? E uma formiga? E uma planta? E um gafanhoto?”
“Bem… sim, mas é… diferente.”
“Não é nada diferente. Se conhecermos o programa do gafanhoto, se soubermos o que o atrai e o repele, o que o motiva e o assusta, poderemos prever todo o seu comportamento. Os gafanhotos têm programas relativamente simples. Se acontecer X, eles reagem de maneira A. Se acontecer Y, eles reagem de maneira B. Exactamente como uma máquina concebida por nós.”
“Mas os gafanhotos são máquinas naturais. Os computadores são máquinas artificiais.”
Manuel olhou em redor da cozinha, à procura de uma ideia. A sua atenção fixou-se na janela, numa árvore erguida no passeio em frente, para onde um pardal esvoaçou.
“Olha ali para as aves. Os ninhos que eles constroem nas árvores são naturais ou artificiais?”
“São naturais, claro.”
“Então tudo o que o homem faz também é natural. Nós, que temos um conceito antropocêntrico da natureza, é que dividimos tudo entre coisas naturais e coisas artificiais, sendo que definimos que as artificiais são as feitas pelos homens e as naturais feitas pela natureza, pelas plantas e pelos animais. Mas isso é uma convenção humana. A verdade é que, se o homem é um animal, tal como as aves, então é uma criatura natural, certo?”
“Sim.”
Continues...
(ıη Ϝσᴙм
ᴜʟα ∂ԑ ᴅԑᴜs, נσsé ᴙσ∂ᴙıɢᴜԑs ∂σs sαηᴛσs)
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Soul's Theory (Part3)
Continuation...
“O que disseste, filho, é o que qualquer biólogo diria, fica descansado. Mas, se perguntares a um biólogo o que é a vida, ele vai-te responder mais ou menos assim: a vida é um conjunto de processos complexos baseados no átomo de carbono.” Ergueu o indicador. “Atenção. Mesmo o mais lírico dos biólogos reconhece, no entanto, que a expressão-chave desta definição não é átomo de carbono, mas processos complexos. É verdade que todos os seres vivos que conhecemos são constituídos por átomos de carbono, mas não é isso verdadeiramente que é estruturante para a definição da vida. Há bioquímicos que admitem que as primeiras formas de vida na Terra não foram baseadas nos átomos de carbono, mas nos cristais. Não interessa se é o átomo A ou o átomo B. Imagina que eu tenho o átomo A na cabeça e que, por algum motivo, ele é substituído pelo átomo B. Será que eu deixo de ser eu só por esse motivo?” Abanou a cabeça. “Não me parece. O que faz com que eu seja eu é um padrão, uma estrutura de informação. Ou seja, não são os átomos, é a forma como os átomos se organizam.” Tossiu. “Sabes de onde é que vem a vida?”
“Vem de onde?”
“Vem da matéria.”
“Ora, grande novidade!”
“Não estás a perceber onde é que eu quero chegar.” Bateu com o dedo na mesa. “ Os átomos que estão no meu corpo são exactamente iguais aos átomos que estão nesta mesa ou numa qualquer galáxia distante. Eles são todos iguais. A diferença está na forma como eles se organizam. O que é que achas que organiza os átomos de modo a formarem células vivas?”
“Uh… não sei.”
“Será uma forma vital? Será um espírito? Será Deus?”
“Se calhar…”
“Não filho”, disse, abanando a cabeça. “O que organiza os átomos de modo a formarem células vivas são as leis da física. É essa a questão central. Repara, como pode um conjunto de átomo inanimados formar um sistema vivo? A resposta está na existência de leis de complexidade. Todos os estudos mostram que os sistemas se organizam espontaneamente, de modo a criarem sempre estruturas cada vez mais complexas, em obediência às leis da física e exprimindo-se por equações matemáticas. Houve até um físico que ganhou um Prémio Nobel por demonstrar que as equações matemáticas por detrás da equações químicas inorgânicas são semelhantes às equações que regem os padrões de comportamento simples de sistemas biológicos avançados. Ou seja, os organismos vivos são, na verdade, o produto de uma incrível complexificação dos sistemas inorgânicos. E essa complexificação não resulta da actividade de uma qualquer força vital, mas da organização espontânea da matéria. Uma molécula, por exemplo, pode ser constituída por um milhão de átomos ligados de uma forma muito especifica e complicada, e a sua actividade é controlada por estruturas químicas tão complexas que se assemelham a uma cidade. Entendes onde eu quero chegar?”
“Hum… sim.”
“O segredo da vida não está nos átomos que constituem a molécula, está na sua estrutura, na sua organização complexa. Essa estrutura existe porque obedece a leis de organização espontânea da matéria. E, da mesma maneira que a vida é o produto da complexificação da matéria inerte, a consciência é o produto da complexificação da vida. A complexidade da organização é que é a questão-chavem, não é a matéria.” Abriu uma gaveta e pegou num livro de receitas, que abriu, exibindo o interior. “Estás a ver estas letras? Estão impressas com que cor de tinta?”
“Preta.”
“Imagina que, em vez de tinta preta, o tipógrafo utilizava tinta roxa.” Fechou o livro e acenou com ele. “Será que a mensagem deste livro deixaria de ser a mesma?”
“Claro que não.”
“É evidente que não. O que faz a identidade deste livro não é a cor da tinta das letras, é uma estrutura de informação. Não importa que a tinta seja preta ou roxa, importa é o conteúdo informativo do livro, a sua estrutura. Posso ler uma Guerra e Paz impresso com fonte Times New Roman e outro Guerra e Paz de uma editora diferente impresso com fonte Arial, mas o livro será sempre o mesmo. É, em qualquer circuntância, o Guerra e Paz de Leo Tolstoi. Pelo contrário, se tiver um Guerra e Paz e um Anna Karenina impressos com a mesma fonte, por exemplo Times New Roman, isso não fará com que os dois livros se tornem a mesma coisa, pois não? O que é estruturante, pois, não é a fonte nem a cor da tinta das letras, é a aestrutura do texto, a sua semântica, a sua organização. O mesmo se passa com a vida. Não importa se a vida é baseada no átomo de carbono ou em cristais ou em qualquer outra coisa. O que faz a vida é uma estrutura de informação, é uma semântica, é uma organização complexa. Eu chamo-me Manuel e sou professor de Matemática. Podem-me tirar o átomo A e meter o átomo B no corpo, mas, desde que esta informação seja preservada, desde que esta estrutura se mantenha intacta, eu continuo a ser eu. Podem-me mudar todos os átomos e substituí-los por outros, que eu continuo a ser eu. Aliás, já está provado que, ao longo da vida, vamos mesmo mudando quase todos os átomos. E, no entanto, eu continuo a ser eu. Peguem no Benfica e mudem-lhe todos os jogadores. Mas o Benfica permanece, continua a ser o Benfica, independentemente de jogar este ou aquele jogador. O que faz o Benfica não são os jogadores A ou B, é um conceito, é uma semântica, é uma estrutura de informação. O mesmo se passa com a vida. Não interessa qual o átomo que, num dado momento, preenche a estrutura. O que interessa é a estrutura em si. Desde que os átomos viabilizem a estrutura de informação que define a minha identidade e as funções dos meus órgãos, a vida é possível. Entendes?”
“Sim.”
“A vida é uma muito complexa estrutura de informação e todas as suas actividades envolvem processamento de informação.” Tossiu. “esta definição, no entanto, tem uma profunda consequência. É que, se o que constitui a vida é um padrão, uma semântica, uma estrutura de informação que se desenvolve e interage com o mundo em redor, nós, feitas as contas, somos uma espécie de programa. A matéria é o hardware, a nossa consciência é o software.” Encostou o dedo à testa. “Nós somos um muito complexo e avançado programa de computador.”
“E qual é o programa desse… uh… computador?”
Continues...
(ıη Ϝσᴙмᴜʟα ∂ԑ ᴅԑᴜs, נσsé ᴙσ∂ᴙıɢᴜԑs ∂σs sαηᴛσs)