terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Literatura

A literatura é um aspecto fundamental na construção social de um indivíduo e na sua inserção na sociedade. A leitura faz parte do desenvolvimento do sentido crítico de uma criança e/ou adulto, sendo necessário incutir este "vício" saudável a toda a humanidade. Ler é compreender as coisas, o Mundo e o que somos. A literatura é um espaço onde o ser humano se pode refugiar, conhecer vidas, aprender a viver, cultivar opiniões e crescer.
Num pequeno livrinho de histórias infantis encontramos sempre uma moralidade que nos remete para uma lição de vida. AS crianças poderão não o entender como tal pois não reagem por estímulos metafísicos, mas sim pela sua inocência. No entant
o, depois de uma "Branca de Neve e os Sete Anões" lida, compreendem o aspecto fulcral da história. E desde então, nunca mais esquecem a "maça vermelha e envenenada". E assim se cultivam valores.
No mundo "dos crescidos" as coisas mudam um pouco. As mentes já não poderão ser tão facilmente moldadas como as das crianças e, por isso, a literatura encarrega-se de transmitir informação extremamente complexa que os façam aperceber-se que a vida não é feita de rotinas mas de novas experiências. Quando se lê um livro, quebra-se a rotina de ouvir as buzinas dos carros, de ver diariamente as mesmas
pessoas, de conhecer sempre as mesmas histórias de vida. A literatura permite, ainda, impedir a automatização do ser humano na vida social ao bombardeá-lo com histórias que implicam drama e romance, tornando o indivíduo numa pessoa mais susceptível aos sentidos, emoções e sentimentos. Deste modo, melhora as suas relações com o Mundo e os outros.
A Literatura é uma máquina não automatizada qu
e pode mudar vidas, pensamentos, visões e relações, ou até mesmo o sentido da existência humana (se a tal a evolução tecnológica e do conhecimento científico o proporcionar...).

Ana Amorim

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Como escrever [e não escrever] um e-mail?


Actualmente, e cada vez mais, a comunicação via e-mail com os nossos familiares, amigos, compatriotas, colegas de trabalho e com pessoas de diferentes culturas e países é uma forma rápida e eficaz de estar correctamente informado e, muitas vezes, ter conhecimento dos mais variados acontecimentos em tempo real. No entanto, várias são ainda as pessoas que não tem a capacidade de trabalhar facilmente na grande ferramenta social da internet, muitas vezes porque não têm acesso à rede, ou até mesmo porque nunca lhes foi mostrado o maravilhoso e grandioso mundo que a internet esconde. Por outro lado, existem os milhões de pessoas que sabem enfrentar a rede mundial e comunicar com os outros via e-mail. O único senão neste grupo de sábios virtuais é que, muitas vezes, a maior parte dos constituintes não sabem redigir um texto e-mail correctamente estruturado e definido. Desta feita, aqui está uma forma simples e clara de redigir um e-mail, tanto para aqueles que estão pela primeira vez a enfrentar esta ferramenta como para aqueles que pensam ser óptimos a desempenhar a tarefa.

Primeiro de tudo, é necessário ter uma conta e-mail, seja ela sapo, g-mail, hotmail, live, yahoo, entre muitos outros, bem como o destinatário da mensagem. Avançaremos, então, para a redacção do e-mail em si mesmo.

1) Antes de mais nada, tente sempre criar e-mails com textos curtos, simples e objectivos de forma a poderem ser facilmente lidos. Caso contrário o seu e-mail poderá nunca obter resposta ou, provavelmente nunca será parcial ou totalmente lido. Tente sempre ser sucinto na mensagem que escreve para melhorar, também, a compreensão do receptor da mensagem.

2) Nunca esqueça de preencher o campo "Assunto", indicando apenas o devido assunto e nada mais para que o remetente possa identificar rapidamente e de forma breve de que se trata a mensagem.

3) Como é óbvio, terá de colocar um endereço de e-mail no remetente. Pode, ainda, enviar o mesmo e-mail a muitos outros destinatários, tendo a possibilidade de ocultar os endereços dos vários destinatários preenchendo o campo "CCO" (com cópia oculta).

4) Procure nunca enviar anexos muito pesados nos seus e-mails.

5) Sendo este um documento, deve ser devidamente organizado, de forma a não conter erros ortográficos. Evite, ainda, usar gírias, o calão, abreviaturas e redigir o texto apenas com letras maiúsculas. Além disso, não é conveniente a utilização de uma gama variada de cores no texto, assim como a fonte deverá ser bem escolhida.

6) Relativamente ao corpo da mensagem, deve iniciar sempre por saudar o seu destinatário. de seguida apresente a sua mensagem de forma objectiva, tal como já referido em 1) e no final da mensagem despeça-se do seu destinatário.

Como pode ver, criar um e-mail não é difícil; basta apenas seguir um princípio de regras básicas para facilitar a comunicação com os outros. Nunca menospreze o que a rede tem para lhe oferecer.


sábado, 30 de abril de 2011

Da perda...

"Há uma grande diferença entre a dor de perder alguém que nos morreu e a dor de perder alguém que nos deixou. A primeira é simplesmente a dor da ausência. A outra é a dor da ausência somada à dor da esperança, multiplicada pela dor da incerteza, com uma incógnita pelo meio: o tempo. A primeira é dor crónica, certa, linear, objectiva, como uma operação básica e irrefutável: dois vezes dois são quatro. A outra tem a mais cruel, misteriosa e indecifrável de todas as incógnitas; pode passar-se dias, meses, até anos a tentar resolvê-la. É mais fácil viver com a primeira. Porque é mais fácil decorar a tabuada do que gastar os dias às voltas com uma equação."


Não acredito em mudanças. Acredito em revelações. (Isilda Amorim)

quarta-feira, 16 de março de 2011


(...)
Don't loose you are in the blur of the stars
Seeing is deceiving, dreaming is believing
It's okay not to be okay
Sometimes it's hard to follow your heart
But tears don't mean you're losing
everybody's bruising
There's nothing wrong with who you are
(...)
Just be true for who you are


Jessie J, (2011). Who You Are.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Amigos, de Vinicius de Moraes


Tenho amigos que não sabem o
quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes
devoto e a absoluta
necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais
nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela
se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme,
que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar,
embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os
meus amores, mas enlouqueceria
se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem
o quanto são meus amigos e o quanto
minha vida depende de suas existências ....
A alguns deles não procuro, basta-me
saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir
em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com
assiduidade, não posso lhes dizer o
quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão ouvindo esta crônica
e não sabem que estão incluídos na
sagrada relação de meus amigos.

Mas é delicioso que eu saiba e sinta
que os adoro, embora não declare e
não os procure.
E às vezes, quando os procuro,
noto que eles não tem
noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis
ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte
do mundo que eu, tremulamente,
construí e se tornaram alicerces do
meu encanto pela vida.

Se um deles morrer,
eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam,
eu rezo pela vida deles.
E me envergonho,
porque essa minha prece é,
em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos
sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de
lugares maravilhosos, cai-me alguma
lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome
e me envelhece é que a
roda furiosa da vida não me permite
ter sempre ao meu lado, morando
comigo, andando comigo,
falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e,
principalmente os que só desconfiam
ou talvez nunca vão saber
que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.


Vinicius de Moraes

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Soul's Theory (Part5)


Continuation...


“Sendo uma criatura natural, tudo o que ele faz é natural. Logo, as suas criações são naturais, da mesma maneira que o ninho feito pelas aves é uma coisa natural.” Tossiu. “O que eu quero dizer é que tudo na natureza é natural. Se o homem é um produto da natureza, então tudo o que ele faz também é natural. Apenas por uma convenção de linguagem se estabeleceu que os objectos que ele cria são artificiais, quando, na verdade, são tão naturais quanto os objectos que as aves criam. Logo, sendo criações de um animal natural, os computadores, tais como os ninhos, são naturais.”

“Mas não têm inteligência.”

“Nem as aves ou os gafanhotos têm.” Fez uma careta. “Ou m

elhor, as aves, os gafanhotos e os computadores têm inteligência. O que eles não têm é a nossa inteligência. Mas, por exemplo, no caso dos computadores, nada garante que, daqui a cem anos, eles não venham a ter uma inteligência igual ou superior à nossa. E, se atingirem o nosso grau de

inteligência, podes estar certo de que desenvolverão emoções e sentimentos e tornar-se-ão conscientes.”

“Isso não acredito.”

“Que possam ter emoções e tornarem-se conscientes?”

“Sim. Não acredito nisso.”

(…)

“Achas que os computadores não podem ter emoções, não é?”

“É. Nem emoções nem consciência.”

“Pois estás muito enganado.” Inspirou fundo, normalizando a respiração. “Sabes, as emoções e a consciência resultam de se atingir um determinado grau de inteligência. Ora, o que é a inteligência? Hã?”

“A inteligência é a capacidade de fazer raciocínios complexos, acho eu.”

“Exacto. Ou seja, a inteligência é uma forma de elevada complexidade. E não é

preciso atingir-se o grau de inteligência humana para se criar a consciência. Por exemplo, os cães são muito menos inteligentes do que os homens, mas, se perguntares ao dono de um cão se o

seu cão tem emoções e consciência das coisas, ele dir-te-á, sem hesitar, que sim. O cão tem emoções e consciência. Logo, as emoções e a consciência são mecanismos que emergem a partir de u determinado grau de complexidade de inteligência.”

“Portanto, o pai acha que os computadores, se atingirem esse grau de complexidade, tornar-se-ão emotivos e conscientes?”

“Sem dúvida.”

“Custa-me a acreditar nisso.”

“Custa-te a ti e custa à maior parte das pessoas que não está dentro do problema. A ideia de máquinas possuírem consciência parece chocante ao comum dos mortais. E, no entanto, a maior parte dos cientistas que lida com este problema acredita ser possível tomar consciente uma mente simulada.”

“Mas o pai acha que é mesmo possível tornar um computador inteligente? Acha que é possível que ele pense por si só?”

“Claro que é. Aliás, os computadores já são inteligentes. São mais inteligentes do que uma minhoca, por exemplo.” Ergueu o dedo. “Não são é tão inteligentes como os seres humanos, mas são mais inteligentes do que uma minhoca. Ora, o que é que separa a inteligência do ser humano da inteligência da minhoca? A complexidade. O nosso cérebro é muito mais complexo do que o da minhoca. Obedece aos mesmo princípios, ambos têm sinapses e ligações, só que o cérebro humano é incomensuravelmente mais complexo do que o da minhoca.” Bateu na parte lateral da cabeça. “Tu sabes o que é um cérebro?”

“É o que temos cá dentro do crânio.”

“Um cérebro é uma massa orgânica que funciona exactamente como um circ

uito eléctrico. Em vez de ter fios, tem neurónios, em vez de chips , tem miolos, mas é precisamente a mesma coisa. O seu funcionamento é determinista. As células nervosas disparam um impulso eléctrico em direcção ao braço com uma determinada ordem, segundo um padrão de correntes eléctricas predefinidas. Um diferente padrão produziria a emissão de um diferente impulso. Exactamente como um computador. O que eu quero dizer é que, se nós conseguirmos tornar um cérebro do computador mais complexo do que é actualmente, poderemos pô-lo a funcionar ao nosso nível.”

“E é possível torná-los tão inteligentes quanto os seres humanos?”


Continues...

(ıη Ϝσᴙм

ᴜʟα ∂ԑ ᴅԑᴜs, נσsé ᴙσ∂ᴙıɢᴜԑs ∂σs sαηᴛσs)


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Soul's Theory (Part4)

Continuation...

“A sobrevivência dos genes. Há biólogos que definiram o ser humano como uma máquina de sobrevivência, uma espécie de robô programado cegamente para preservar os genes. Eu sei que, assim postas as coisas, parece chocante, mas é isso que nós somos. Computadores programados para preservar genes.”

“Por essa definição, um computador é um ser vivo.”

“Sem dúvida. É um ser vivo que não é constituído por átomos de carbono.”

“Mas isso não é possível!”

“Por que não?”

“Porque um computador limita-se a reagir a um programa predefinido.”

“Que é o que fazem todos os seres vivos baseados nos átomos de carbono!”, devolveu o pai.

“O teu problema é que um computador é uma máquina que funciona na base do estímulo-

resposta programada, não é?”

“Uh… sim.”

“E o cão de Pavlov? Não funciona na base do estímulo-resposta programada? E uma formiga? E uma planta? E um gafanhoto?”

“Bem… sim, mas é… diferente.”

“Não é nada diferente. Se conhecermos o programa do gafanhoto, se soubermos o que o atrai e o repele, o que o motiva e o assusta, poderemos prever todo o seu comportamento. Os gafanhotos têm programas relativamente simples. Se acontecer X, eles reagem de maneira A. Se acontecer Y, eles reagem de maneira B. Exactamente como uma máquina concebida por nós.”

“Mas os gafanhotos são máquinas naturais. Os computadores são máquinas artificiais.”

Manuel olhou em redor da cozinha, à procura de uma ideia. A sua atenção fixou-se na janela, numa árvore erguida no passeio em frente, para onde um pardal esvoaçou.

“Olha ali para as aves. Os ninhos que eles constroem nas árvores são naturais ou artificiais?”

“São naturais, claro.”

“Então tudo o que o homem faz também é natural. Nós, que temos um conceito antropocêntrico da natureza, é que dividimos tudo entre coisas naturais e coisas artificiais, sendo que definimos que as artificiais são as feitas pelos homens e as naturais feitas pela natureza, pelas plantas e pelos animais. Mas isso é uma convenção humana. A verdade é que, se o homem é um animal, tal como as aves, então é uma criatura natural, certo?”

“Sim.


Continues...


(ıη Ϝσᴙм

ᴜʟα ∂ԑ ᴅԑᴜs, נσsé ᴙσ∂ᴙıɢᴜԑs ∂σs sαηᴛσs)



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Soul's Theory (Part3)

Continuation...

“O que disseste, filho, é o que qualquer biólogo diria, fica descansado. Mas, se perguntares a um biólogo o que é a vida, ele vai-te responder mais ou menos assim: a vida é um conjunto de processos complexos baseados no átomo de carbono.” Ergueu o indicador. “Atenção. Mesmo o mais lírico dos biólogos reconhece, no entanto, que a expressão-chave desta definição não é átomo de carbono, mas processos complexos. É verdade que todos os seres vivos que conhecemos são constituídos por átomos de carbono, mas não é isso verdadeiramente que é estruturante para a definição da vida. Há bioquímicos que admitem que as primeiras formas de vida na Terra não foram baseadas nos átomos de carbono, mas nos cristais. Não interessa se é o átomo A ou o átomo B. Imagina que eu tenho o átomo A na cabeça e que, por algum motivo, ele é substituído pelo átomo B. Será que eu deixo de ser eu só por esse motivo?” Abanou a cabeça. “Não me parece. O que faz com que eu seja eu é um padrão, uma estrutura de informação. Ou seja, não são os átomos, é a forma como os átomos se organizam.” Tossiu. “Sabes de onde é que vem a vida?”

“Vem de onde?”

“Vem da matéria.”

“Ora, grande novidade!”

“Não estás a perceber onde é que eu quero chegar.” Bateu com o dedo na mesa. “ Os átomos que estão no meu corpo são exactamente iguais aos átomos que estão nesta mesa ou numa qualquer galáxia distante. Eles são todos iguais. A diferença está na forma como eles se organizam. O que é que achas que organiza os átomos de modo a formarem células vivas?”

“Uh… não sei.”

“Será uma forma vital? Será um espírito? Será Deus?”

“Se calhar…”

“Não filho”, disse, abanando a cabeça. “O que organiza os átomos de modo a formarem células vivas são as leis da física. É essa a questão central. Repara, como pode um conjunto de átomo inanimados formar um sistema vivo? A resposta está na existência de leis de complexidade. Todos os estudos mostram que os sistemas se organizam espontaneamente, de modo a criarem sempre estruturas cada vez mais complexas, em obediência às leis da física e exprimindo-se por equações matemáticas. Houve até um físico que ganhou um Prémio Nobel por demonstrar que as equações matemáticas por detrás da equações químicas inorgânicas são semelhantes às equações que regem os padrões de comportamento simples de sistemas biológicos avançados. Ou seja, os organismos vivos são, na verdade, o produto de uma incrível complexificação dos sistemas inorgânicos. E essa complexificação não resulta da actividade de uma qualquer força vital, mas da organização espontânea da matéria. Uma molécula, por exemplo, pode ser constituída por um milhão de átomos ligados de uma forma muito especifica e complicada, e a sua actividade é controlada por estruturas químicas tão complexas que se assemelham a uma cidade. Entendes onde eu quero chegar?”

“Hum… sim.”

“O segredo da vida não está nos átomos que constituem a molécula, está na sua estrutura, na sua organização complexa. Essa estrutura existe porque obedece a leis de organização espontânea da matéria. E, da mesma maneira que a vida é o produto da complexificação da matéria inerte, a consciência é o produto da complexificação da vida. A complexidade da organização é que é a questão-chavem, não é a matéria.” Abriu uma gaveta e pegou num livro de receitas, que abriu, exibindo o interior. “Estás a ver estas letras? Estão impressas com que cor de tinta?”

“Preta.”

“Imagina que, em vez de tinta preta, o tipógrafo utilizava tinta roxa.” Fechou o livro e acenou com ele. “Será que a mensagem deste livro deixaria de ser a mesma?”

“Claro que não.”

“É evidente que não. O que faz a identidade deste livro não é a cor da tinta das letras, é uma estrutura de informação. Não importa que a tinta seja preta ou roxa, importa é o conteúdo informativo do livro, a sua estrutura. Posso ler uma Guerra e Paz impresso com fonte Times New Roman e outro Guerra e Paz de uma editora diferente impresso com fonte Arial, mas o livro será sempre o mesmo. É, em qualquer circuntância, o Guerra e Paz de Leo Tolstoi. Pelo contrário, se tiver um Guerra e Paz e um Anna Karenina impressos com a mesma fonte, por exemplo Times New Roman, isso não fará com que os dois livros se tornem a mesma coisa, pois não? O que é estruturante, pois, não é a fonte nem a cor da tinta das letras, é a aestrutura do texto, a sua semântica, a sua organização. O mesmo se passa com a vida. Não importa se a vida é baseada no átomo de carbono ou em cristais ou em qualquer outra coisa. O que faz a vida é uma estrutura de informação, é uma semântica, é uma organização complexa. Eu chamo-me Manuel e sou professor de Matemática. Podem-me tirar o átomo A e meter o átomo B no corpo, mas, desde que esta informação seja preservada, desde que esta estrutura se mantenha intacta, eu continuo a ser eu. Podem-me mudar todos os átomos e substituí-los por outros, que eu continuo a ser eu. Aliás, já está provado que, ao longo da vida, vamos mesmo mudando quase todos os átomos. E, no entanto, eu continuo a ser eu. Peguem no Benfica e mudem-lhe todos os jogadores. Mas o Benfica permanece, continua a ser o Benfica, independentemente de jogar este ou aquele jogador. O que faz o Benfica não são os jogadores A ou B, é um conceito, é uma semântica, é uma estrutura de informação. O mesmo se passa com a vida. Não interessa qual o átomo que, num dado momento, preenche a estrutura. O que interessa é a estrutura em si. Desde que os átomos viabilizem a estrutura de informação que define a minha identidade e as funções dos meus órgãos, a vida é possível. Entendes?”

“Sim.”

“A vida é uma muito complexa estrutura de informação e todas as suas actividades envolvem processamento de informação.” Tossiu. “esta definição, no entanto, tem uma profunda consequência. É que, se o que constitui a vida é um padrão, uma semântica, uma estrutura de informação que se desenvolve e interage com o mundo em redor, nós, feitas as contas, somos uma espécie de programa. A matéria é o hardware, a nossa consciência é o software.” Encostou o dedo à testa. “Nós somos um muito complexo e avançado programa de computador.”

“E qual é o programa desse… uh… computador?”


Continues...

(ıη Ϝσᴙмᴜʟα ∂ԑ ᴅԑᴜs, נσsé ᴙσ∂ᴙıɢᴜԑs ∂σs sαηᴛσs)