Que temo que procurar e dar...
Que ninguém estabelece as regras a não ser a vida...
Que a vida sem certas normas perde as formas...
Que a forma não se perde ao abrirmo-nos...
Que abrirmo-nos não é amar indiscretamente...
Que não é proibido amar...
Que também se pode odiar...
Que a agrassão porque sim, fere muito...
Que as feridas se fecham...
Que as portas não se devem fechar...
Que a maior porta é o afecto...
Que os afectos, nos definem...
Que definir não é remar contra a corrente...
Que quanto mais forte é o traço, mais se desenha...
Que navegar palavras, é abrir distâncias...
(...)
Que querer saber de alguém não é apenas curiosodade...
Que saber tudo de todos, é curiosidade doentia...
Que nunca é demais agradecer...
Que autodeterminação não é fazer as coisas sozinho...
Que ninguém quer estar só...
Que para não estar só há que dar...
Que para dar, devemos receber antes...
Que para que nos dêem também há que saber pedir...
(...)
Que para que nos queiram devemos demonstrar quem somos...
Que para que alguém seja, há que ajudá-lo...
Que ajudar é poder apoiar...
Que adular não é apoiar...
Que adular é tão mau como virar a cara...
(...)
Que quando não há prazer nas coisas não se está a viver...
Que parar sentir a vida há que esquecer que existe a morte...
Que se pode estar morto em vida...
Que se sente com o corpo e a mente...
Que com os ouvidos se escuta...
Que custa ser sensível e não se ferir...
(...)
Que para não sermos feridos levantamos muros...
Que seria melhor construir pontes...
(...)
Que voltar não implica retroceder...
Que retroceder também pode avançar...
Que não é por muito avançar que se amanhece mais perto do sol...
Como fazer-te saber que ninguém estabelece normas, salvo a vida?
Mario Benedetti
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