domingo, 24 de janeiro de 2010

O que há em mim é sobretudo cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Alberto Caeiro

2 comentários:

Nilson Kelly dos Santos disse...

Gosto muito de acompanhar seu blog,
você possui um gosto por poesia que me deixa bobo.
Você só escolhe as jóias produzidas pela própria humanidade,
preciosidades que valem mais do que rios de dinheiro, pois,
apesar de não comprarem o pão que sustenta o corpo,
enriquecem nossa alma,
e além do mais,
não causam a morte dos inocentes.

Adorei conhecer esse seu espaço

Ana Amorim disse...

Os mais sinceros agradecimentos por elogios tão prestáveis. :)