“Sendo uma criatura natural, tudo o que ele faz é natural. Logo, as suas criações são naturais, da mesma maneira que o ninho feito pelas aves é uma coisa natural.” Tossiu. “O que eu quero dizer é que tudo na natureza é natural. Se o homem é um produto da natureza, então tudo o que ele faz também é natural. Apenas por uma convenção de linguagem se estabeleceu que os objectos que ele cria são artificiais, quando, na verdade, são tão naturais quanto os objectos que as aves criam. Logo, sendo criações de um animal natural, os computadores, tais como os ninhos, são naturais.”
“Mas não têm inteligência.”
“Nem as aves ou os gafanhotos têm.” Fez uma careta. “Ou m
elhor, as aves, os gafanhotos e os computadores têm inteligência. O que eles não têm é a nossa inteligência. Mas, por exemplo, no caso dos computadores, nada garante que, daqui a cem anos, eles não venham a ter uma inteligência igual ou superior à nossa. E, se atingirem o nosso grau de
inteligência, podes estar certo de que desenvolverão emoções e sentimentos e tornar-se-ão conscientes.”
“Isso não acredito.”
“Que possam ter emoções e tornarem-se conscientes?”
“Sim. Não acredito nisso.”
(…)
“Achas que os computadores não podem ter emoções, não é?”
“É. Nem emoções nem consciência.”
“Pois estás muito enganado.” Inspirou fundo, normalizando a respiração. “Sabes, as emoções e a consciência resultam de se atingir um determinado grau de inteligência. Ora, o que é a inteligência? Hã?”
“A inteligência é a capacidade de fazer raciocínios complexos, acho eu.”
“Exacto. Ou seja, a inteligência é uma forma de elevada complexidade. E não é
preciso atingir-se o grau de inteligência humana para se criar a consciência. Por exemplo, os cães são muito menos inteligentes do que os homens, mas, se perguntares ao dono de um cão se o
seu cão tem emoções e consciência das coisas, ele dir-te-á, sem hesitar, que sim. O cão tem emoções e consciência. Logo, as emoções e a consciência são mecanismos que emergem a partir de u determinado grau de complexidade de inteligência.”
“Portanto, o pai acha que os computadores, se atingirem esse grau de complexidade, tornar-se-ão emotivos e conscientes?”
“Sem dúvida.”
“Custa-me a acreditar nisso.”
“Custa-te a ti e custa à maior parte das pessoas que não está dentro do problema. A ideia de máquinas possuírem consciência parece chocante ao comum dos mortais. E, no entanto, a maior parte dos cientistas que lida com este problema acredita ser possível tomar consciente uma mente simulada.”
“Mas o pai acha que é mesmo possível tornar um computador inteligente? Acha que é possível que ele pense por si só?”
“Claro que é. Aliás, os computadores já são inteligentes. São mais inteligentes do que uma minhoca, por exemplo.” Ergueu o dedo. “Não são é tão inteligentes como os seres humanos, mas são mais inteligentes do que uma minhoca. Ora, o que é que separa a inteligência do ser humano da inteligência da minhoca? A complexidade. O nosso cérebro é muito mais complexo do que o da minhoca. Obedece aos mesmo princípios, ambos têm sinapses e ligações, só que o cérebro humano é incomensuravelmente mais complexo do que o da minhoca.” Bateu na parte lateral da cabeça. “Tu sabes o que é um cérebro?”
“É o que temos cá dentro do crânio.”
“Um cérebro é uma massa orgânica que funciona exactamente como um circ
uito eléctrico. Em vez de ter fios, tem neurónios, em vez de chips , tem miolos, mas é precisamente a mesma coisa. O seu funcionamento é determinista. As células nervosas disparam um impulso eléctrico em direcção ao braço com uma determinada ordem, segundo um padrão de correntes eléctricas predefinidas. Um diferente padrão produziria a emissão de um diferente impulso. Exactamente como um computador. O que eu quero dizer é que, se nós conseguirmos tornar um cérebro do computador mais complexo do que é actualmente, poderemos pô-lo a funcionar ao nosso nível.”
“E é possível torná-los tão inteligentes quanto os seres humanos?”
Continues...
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