terça-feira, 7 de setembro de 2010

Soul's Theory (Part2)

Continuation...

“O problema é que este que eu sou é produto de substâncias químicas que me circulam no corpo, de transmissões eléctricas entre neurónios, de heranças genéticas codificadas no meu ADN, de um sem-número de condicionalismos exteriores e intrínsecos que moldam este eu que sou eu. O meu cérebro é uma complexa máquina electroquímica que funciona como um computador e a minha consciência, esta noção que eu tenho da minha existência, é uma espécie de programa. Percebes? De uma certa forma, e literalmente, os miolos são o hardware, a consciência o software. O que levanta natural

mente questões interessantes. Será que um computador tem alma? Se o ser humano é um computador muito complexo, será que ele próprio tem alma? Se todo o circuito morrer, a alma sobrevive? Sobrevive onde? Em que sítio?”

“Bem… ergue-se do corpo e vai… enfim… vai…”

“Vai para o céu?”

“Não, vai… sei lá, vai para uma outra dimensão.”

“Mas de que é feita essa alma que se ergue do corpo? De átomos?”

“Não, acho que não. Deve ser uma substância incorpórea.”

“Não tem átomos?”

“Julgo que não. É um… uh… um espírito.”

“Bem, isso leva-me a formular uma outra pergunta”, observou p matemático. “Será que, um dia, no futuro, a minha alma se lembra desta minha existência?”

“Sim, dizem que sim.”

“Mas isso não faz sentido, pois não?”

“Por que não?”

“Repara, Tomás. Como é que nós organizamos a nossa consciência? Como é que eu sei que sou eu, que sou um professor de Matemática, que sou teu pai e marido da tua mãe? Que nasci em Castelo Branco e que já estou quase careca? Como é que eu sei tudo sobre mim?”

“O pai conhece-se por causa do que viveu, do que fez e do que disse, do que ouviu e viu e aprendeu.”

“Exacto. Eu sei que sou eu porque tenho m

emória de mim mesmo, de tudo o que me aconteceu, mesmo o que aconteceu há apenas um segundo. Eu sou a memória de mim mesmo. E onde se localiza essa memória?”

“No cérebro, claro.”

“Nem mais. A minha memória encontra-se localizada no cérebro, armazenada em células. Essas células fazem parte do meu corpo. E é aqui que está a questão. Quando o meu corpo morre, as células da memória deixam de ser ali

mentadas por oxigénio e morrem também. Apaga-se assim toda a minha memória, a lembrança do que eu sou. Se assim é, como raio pode a alma lembrar-se da minha vida? Se a alma não tem átomos, não pode ter células da memória, não é? Por outro lado, as células onde a memória da minha vida se encontrava gravada já morreram. Nessas condições, como é que a alma se lembra do que quer que seja? Não achas tudo isso um pouco sem sentido?”

“Mas o pai fala como se nós fôssemos todos umas máquinas, uns computadores.” Abriu as mãos, como quem expõe uma evidência. “Eu tenho uma novidade para lhe dar. Nós não somos computadores, somos gente, somos seres

vivos.”

“Ah, sim? E qual é a diferença entre os dois?”

“Bem, nós pensamos, sentimos, vivemos. Os computadores não.”

“E tens a certeza de que somos mesmo diferentes?”

“Então não somos, pai? Os seres vivos são biológicos, os computadores não passam de circuitos.”

Manuel Noronha ergueu o rosto para cima, como se estivesse a falar para Alguém.

“E tirou este rapaz um doutoramento numa universidade…”

Tomás hesitou.

“Por que diz isso? Eu disse algum disparate?”

Continues...

(ıη Ϝσᴙмᴜʟα ∂ԑ ᴅԑᴜs, נσsé ᴙσ∂ᴙıɢᴜԑs ∂σs sαηᴛσs)



Sem comentários: